
Coringa que canta seus males espanta.
Todd Phillips explicou que a decisão de tornar Delírio a Dois um musical surgiu do próprio Coringa (2019). Para ele e Joaquin Phoenix, intérprete do Palhaço, a música desempenha um papel fundamental para a construção do personagem desde o início:
“Vemos isso no primeiro filme, quando ele dança no banheiro, desce as escadas ou quando executa Murray Franklin (Robert De Niro) e dança como uma bailarina. Quer dizer, ele é incrível. Então pensamos que, nesse segundo filme, se ele vai conhecer alguém pela primeira vez, se for para ter amor na vida dele, então talvez a ideia seja que a música dentro dele venha para fora. Essa foi meio que a gênesis, a semente da ideia. E tudo saiu dali.”
O cineasta celebrou que Delírio a Dois trouxe a oportunidade para trazer a música para o centro do palco, algo que sempre quis por considerar essa a melhor entre as ferramentas disponíveis na produção de um longa. O mais perto que havia chegado na carreira foram os documentários Hated (1993) e Bittersweet Motel (2000), sobre as bandas The Murder Junkies e Phish, respectivamente, mas nenhum dos dois no “nível” do novo Coringa.
Coringa versus Frank Sinatra
Quando questionado sobre qual é sua sequência favorita entre as musicais, o cineasta escolheu o momento em que o Coringa canta “For Once in My Life”, e a razão é no mínimo inusitada:
“Você pode ir no YouTube e procurar Frank Sinatra cantando ‘For Once In My Life’ e verá um cantor muito melhor que Joaquin interpretando aquela canção. Porém, ele canta ‘pela primeira vez na vida, encontrei alguém que precisa de mim’ e, quer saber? Eu assisto pensando ‘não acredito que nunca precisaram de você, Frank Sinatra’. Mas acredito quando Arthur canta isso. Acredito. Então é essa emoção.”
“É claro que Frank Sinatra é um cantor melhor do que Joaquin Phoenix, mas acredito mais quando vem de Joaquin. Porque ele canta com uma emoção e uma vulnerabilidade que Frank Sinatra não tem – e nem deveria, aliás. Então aquela realmente funciona para mim”.
Quando precisou escolher um momento musical protagonizado pela Arlequina de Lady Gaga, o cineasta teve dificuldade. “Com ela, eu amo todas”, ponderou, “mas realmente adoro quando ela faz toda aquela coisa em ‘Gonna Build a Mountain’ [de Anthony Newley], porque é simplesmente louco”.
Para Phillips, esse momento simboliza um dos principais objetivos do novo Coringa, que é trazer caos e surpresa:
“Uma das primeiras ideias para o filme, que compartilhei com Joaquin, foi ‘acho importante que esse filme pareça ter sido feito por gente louca’ [risos]. Acho importante vendermos essa ideia de que os detentos estão comandando o sanatório – não literalmente os detentos no filme, mas nós como detentos. Então na cena de ‘‘Gonna Build a Mountain’, em que ele está sapateando, para mim é o ápice.
Goste ou não, eis o palhaço dançarino
É fato que musical se tornou um gênero cada vez mais controverso, ao ponto de receber rejeição por parte do público que vai aos cinemas – vide que as publicidades de filmes como Wonka (2023) e Meninas Malvadas (2024) praticamente esconderam o fato de serem musicais. Apesar da preocupação inicial em não enganar o público, Todd Phillips admite que não está muito preocupado com a possível rejeição à cantoria de seus palhaços:
“Não estamos tentando gerenciar os sentimentos do público. Se você não gostar, não gostou. Quer dizer, não sei o que dizer. É engraçado, descobri logo cedo que quando você vira cineasta, precisa estar preparado para viver ouvindo as pessoas dizendo como teriam feito ou não o que você fez. E, de certa forma, você precisa se divorciar da expectativa pelos resultados, viver a experiência e estar disposto a isso.”
Segundo o cineasta, isso fez com que a equipe do longa firmasse um compromisso em se manter verdadeira ao projeto, em vez de tentar adequá-lo às expectativas do público:
“Não poderíamos pensar ‘é melhor fazer desse jeito para cumprir as expectativas e as pessoas conseguirem diferir a ideia mais facilmente’. Em certo ponto, você só vai fazer algo e torcer para que as pessoas gostem. Mas também precisa entender, ou melhor, eu entendo, que nem todo filme é para todo mundo. E está tudo bem, também.”
Coringa: Delírio a Dois chega aos cinemas do Brasil em 3 de outubro.

Folie à Deux: o que é, características e tratamento
Folie à deux, também conhecido por “delírio a dois”, transtorno delirante induzido ou perturbação delirante partilhada, é uma síndrome em que há a transferência de delírios psicóticos de uma pessoa doente, o psicótico primário, para uma pessoa aparentemente saudável, o sujeito secundário.
Essa transferência da ideia delirante é mais frequente em pessoas que mantêm uma relação próxima e acontece mais frequentemente em mulheres, havendo a transferência dos delírios de uma pessoa mais velha para uma mais nova, como de mãe para filha, por exemplo.
Na maior parte dos casos, somente as pessoas envolvidas no compartilhamento do delírio sofrem de um transtorno psicótico genuíno, e os delírios no sujeito secundário geralmente desaparecem quando as pessoas são separadas.
Principais características
Segundo alguns estudos, o fenômeno folie a deux é explicado pela presença de um conjunto de condições, como:
- Uma das pessoas, o psicótico primário, sofre de uma perturbação psicótica e exerce uma relação de dominância em relação à outra pessoa considerada saudável;
- Ambas as pessoas que sofrem do transtorno mantêm uma relação próxima e duradoura e geralmente convivem em um ambiente com pouca influência do exterior;
- O elemento passivo é geralmente mais novo e do sexo feminino e possui uma hereditariedade favorável ao desenvolvimento psicótico;
- Os sintomas manifestados pelo elemento passivo são geralmente menos severos do que pelo elemento ativo.
Geralmente, esta perturbação acontece quando o sujeito indutor sofre de uma perturbação psicótica, sendo que, a perturbação psicótica mais frequentemente encontrada nos elementos indutores foi a esquizofrenia, seguida da perturbação delirante, perturbação bipolar e depressão major.
Como é feito o diagnóstico
O diagnóstico do folie a deux deve ser feito pelo psicólogo ou psiquiatra a partir da observação da relação entre as duas pessoas e características apresentadas, podendo ser feita uma avaliação conjunta ou individual.